10 janeiro 2018

Novamente, Anomalias vs. Variantes…

Parece inacreditável ter que voltar a falar sobre esse assunto tão BÁSICO, do bê a bá da numismática, mas, ainda existem, infelizmente, alguns colecionadores bobalhões que “não aceitam” o fato, reconhecido mundialmente por todas as Sociedades Numismáticas SÉRIAS, de que VARIANTES sejam alterações intencionais no design das moedas, e que ANOMALIAS sejam erros de produção.

Motivo: Porque um comerciante numismático de Curitiba-PR, completamente leigo no assunto e mais perdido do que cego em tiroteio, lançou uma “obra” física, em papel, na qual nomeia erros de produção corriqueiros como “variantes”, e qualquer coisa que ele desconheça como “variante”. E pior, ainda lhes dá cotações surreais.

É até compreensível que tenham dúvidas a respeito, já que não há NENHUMA publicação a respeito de um tema tão simples, corriqueiro e fundamental na numismática, que esteja publicado ou disponível em língua portuguesa. As Sociedades Numismáticas no Brasil servem apenas como clube de venda de moedas, quase nada sobre conhecimento é publicado.

De fato, o material sobre o assunto está 100% publicado no estrangeiro.

Compreensível a ignorância, porém de forma alguma é perdoável.  Apesar das publicações sobre esse assunto estarem em livros físicos em papel, em língua estrangeira, os quais dificilmente são acessados pelos numismatas brasileiros – até mesmo pelo valor dos mesmos, e por mero desconhecimento da existência -, há muito material sobre este assunto BÁSICO da numismática disponível GRATUITAMENTE na internet. Basta pesquisar! (Embora eu duvide que saibam fazer isso, pois esses JUMENTOS são analfabetos funcionais).

Então vamos ajudar estas pessoas a pararem de passar vergonha na internet. Seguem algumas referências que encontrei com 2 minutos de pesquisa no Google, em sites sérios sobre numismática:

1) Site da NGC
https://www.ngccoin.com/news/article/1655/Variety-versus-Mint-Error/

Variety
A variety is a coin that differs from its basic design type in some distinctive way and is thus differentiated by collectors.

Uma variante é uma moeda que difere de seu tipo básico de design de alguma forma distinta, e portanto, é diferenciada pelos colecionadores.

Mint Error
Coins with major mint errors as a result of human or mechanical error during manufacturing.

Moedas com erros de produção como resultado de erros humanos ou mecânicos durante a fabricação.

2) Site da PCGS:
https://www.pcgs.com/news/mint-error-or-die-variety?utm_source=email&utm_medium=newsletter&utm_campaign=newsletter-pcgs-2016may03-archive

An error is a mechanical (machine) malfunction of some sort. Meaning, the machine itself jumped, bumped, slipped, turned, tilted, vibrated, or one of probably a hundred things that could go wrong during the striking process. Each malfunction that causes an error is unique, and, with a little research and understanding, is recognizable. Some may be very similar, but a striking error is always technically unique to the strike, which makes every error unique. Some examples of errors are: Off-centers, Rotated Dies, Struck Throughs, And Double Struck Coins.
Uma anomalia é um mal funcionamento mecânico (máquina) de algum tipo. O que significa que a própria máquina saltou, chutou, escorregou, virou, inclinou, vibrou, ou uma das provavelmente centenas de coisas que poderiam dar errado durante o processo de cunhagem. Cada mal funcionamento que causa um erro é único, e com um pouco de pesquisa e compreensão, é reconhecível. Alguns podem ser muito semelhantes, mas um erro impressionante é sempre tecnicamente exclusivo da cunhagem, o que torna todos os erros únicos. Alguns exemplos de anomalias são: Cunhagens descentradas, rotação de cunho, cunho gasto, e batidas duplas.


The opposite is what makes a die variety. This is when the actual die has some kind of unique characteristic that is repeated exactly, or progressively, among multiple coin strikings. Just about every series has its own unique traceable die varieties. Some die variety examples are: Re-engravings, Over Polishings, Repunched Mint Marks/Dates, And Die Cracks.
O oposto é uma variante de cunho. Isto é, quando o cunho atual possui algum tipo de característica única que é repetida exaustivamente, ou progressivamente, entre várias cunhagens de moedas. Alguns exemplos de variantes são regravações, sobreposições, marcas/datas remanescentes e rachaduras. (Nota do blogueiro: tal como os nossos 960 Réis).


seapator

3) Site do Lincoln Cent Resource, a maior referência dos colecionadores de Lincoln Cent:
http://www.lincolncentresource.com/FAQ/errors_vs_varieties.html

Varieties are intentional and unintentional changes to dies before coins are struck
Variantes são modificações intencionais e involuntárias no cunho efetuadas antes da cunhagem.


Errors are unintentional mistakes or abnormalities made during striking.   
Anomalias são erros não intencionais ou anormalidades ocasionadas durante a cunhagem.


4) Portal do Numismata Ken Potter, uma mais maiores autoridades no assunto, no mundo, com 50 anos de estudos numismáticos. ATENÇÃO: 50 anos de ESTUDOS no ramo, não de mero COMÉRCIO, que qualquer bobalhão analfabeto é capaz de fazer. O sr. Ken Potter dá PALESTRAS sobre o assunto “Anomalias e Variantes” nas Sociedades Numismáticas dos Estados Unidos, como se pode conferir em seu website. Ele é co-autor do “Guia Cherrypickers de Erros e Variantes”, uma das melhores obras sobre o assunto. É autor do prefácio da obra “The Official Price Guide to Mint Errors”, de Alan Herbert. Tem seus próprios livros sobre o assunto publicados. É membro do CONECA, (The Combined Organizations of Numismatic Error Collectors of America), a maior associação numismática de colecionadores de anomalias em moedas, do mundo. Possui inclusive um serviço de expertização de erros e variantes. Melhor do que postar a definição de anomalias e variantes, é ler o site todo, pois é uma verdadeira aula:
http://koinpro.tripod.com/
http://koinpro.tripod.com/Ken_Potter_Bio_Page.htm


Dá pra ficar o dia todo aqui postando referências GRATUITAS da internet sobre a diferença entre ANOMALIAS (erros de produção) e VARIANTES DE CUNHO (alterações propositais no design), redigidas por numismatas experientes no ramo, reconhecidos e acreditados por suas Sociedades Numismáticas. Palavra-chave para pesquisa: “Errors and Varieties Coins”. 

Agora, se preferem fazer birra e pirraça e acreditar no que um mero comerciante escreveu numa “obra” feita nas coxas, no sul do Brasil, não posso fazer mais nada. Como já dizia o dissidente soviético Yuri Bezmenov:

«Uma pessoa que está desmoralizada não é mais capaz de acessar informação verdadeira. O fato não diz nada para ela. Mesmo quando confrontada com informações de grandes evidências e provas fundamentais como documentos e fotos… elas irão se recusar a crer nisso, até que levem um chute no traseiro».


Sem mais no momento (eu espero…).

09 janeiro 2018

Rotação de Cunho

Primeiro, vamos determinar o que é ANVERSO e o que é REVERSO nas moedas.

O ANVERSO é o lado principal das moedas. Na maioria das moedas do mundo, consta a cabeça (efígie) do monarca reinante, ou uma efígie iconográfica que simboliza a personificação de um regime republicano. Então segue-se a lógica de que a efígie não pode estar de cabeça pra baixo. Não constando uma efígie, o anverso será onde consta a informação de maior importância, ou seja, o nome do País emissor. O REVERSO será, logicamente, o outro lado, de menor importância.

Uma das características de todas as moedas é a sua ORIENTAÇÃO ou ALINHAMENTO, cujo design do anverso possui sentido inverso ou alinhado de maneira específica em relação ao reverso. Basicamente existem duas opções:

ORIENTAÇÃO MEDALHA: O nome deriva da orientação das medalhas de uniforme militar. O reverso está alinhado a 0º em relação ao anverso, de forma que compartilham a mesma posição ao girar a moeda em seu eixo vertical. A maioria das moedas antigas do Brasil são cunhadas com esta orientação.

alignmedalha

 

ORIENTAÇÃO MOEDA: É a situação oposta. O reverso está alinhado a 180º em relação ao anverso, de forma que fica “de cabeça pra baixo” ao ser girada a moeda em seu eixo vertical. As moedas atuais do Brasil (Plano Real) são cunhadas com essa orientação.

 

Por erro de produção, pode acontecer de algum dos lados da moeda estar orientado em posições diferentes, em diversos graus de inclinação, e a isto denomina-se, mundialmente, por todas as sociedades numismáticas SÉRIAS, de anomalia de ROTAÇÃO DE CUNHO, comumente chamado no Brasil, por leigos, de “Reverso Invertido”, “Reverso Inclinado”, inclusive em catálogos e publicações que doravante pretendem apresentar seriedade.

Somente para este assunto, ROTAÇÃO DE CUNHO, poderia-se escrever um livro inteiro. Há muito mais a ser dito e explicado, há de se detalhar quais falhas ocorrem durante a cunhagem que causam a rotação dos cunhos, ilustrá-las, e este texto é apenas um pequeno esboço, somente pros amigos terem uma idéia de como as coisas realmente funcionam, e cuja nomenclatura aqui no Brasil foi simplesmente INVENTADA pela cabeça de comerciantes brasileiros que, não compreendendo suas causas, passaram a nomear de cabeça própria aquilo que observavam, às vezes com nomes esdrúxulos, e que é perpetuada até hoje, por pura ignorância, por catálogos, inclusive por aqueles que se dispõem a “revisar cada detalhe”, como o Bentes.

Ou seja, nossos nobres amigos editores numismáticos, (inclusive o Bentes, que se autoproclama uma “sumidade” no assunto), estão catalogando erros tais como rotação de cunho e até mesmo cunho marcado em seus catálogos, que são duas anomalias relativamente insignificantes. Ou se cataloga as realmente importantes, como as “mules” ou “híbridas”, ou não se cataloga nenhuma. Na verdade, o ideal seria não catalogar as anomalias, e sim as VARIANTES DE CUNHO. Quanto às anomalias, ou podem ser catalogadas em uma obra à parte, ou como meras variedades da peça, tal como fazem os editores filatélicos.

Mas… Qual o correto? Reverso invertido/inclinado ou será que é Anverso invertido/inclinado?

Resposta: Ambos estão errados!

Não é o reverso ou o anverso do disco da moeda que girou durante a cunhagem, e sim o cunho. (Afinal, isto é óbvio, o disco da moeda vai girar como, se está sendo prensado por dois cunhos exercendo dezenas de toneladas de pressão?).

A anomalia de ROTAÇÃO DE CUNHO pode ocorrer de duas formas: Na primeira, erro humano, (proposital ou não) com a instalação, na máquina de cunhagem, de um dos cunhos em posição invertida (e aí teremos moedas com exatamente 180º de rotação), e são as que chamamos erroneamente no Brasil de “reverso invertido”, e na segunda, uma falha de produção sem intervenção humana no qual ocorre de um dos cunhos (quase sempre o cunho móvel) começar a ficar frouxo na máquina de cunhagem, após muitas milhares de batidas em moedas. E aí começam a aparecer moedas cada vez mais inclinadas, em vários graus. São as que chamamos “reverso inclinado”, “reverso horizontal”, dentre outros nomes.

Por isso, mais correto é o termo “Rotação de Cunho”, pois, apesar de quase sempre o cunho móvel ser o responsável pela rotação, em alguns casos o cunho fixo também pode girar. Nas atuais moedas brasileiras de 1 Real, sabemos que a face com a Efígie da República (anverso) é o cunho móvel (martelo), então podemos associar na maioria das vezes que é este o cunho que rotaciona em seu eixo, (daí teríamos o “ANVERSO invertido/inclinado”), mas em alguns casos é o cunho fixo, com o valor facial, que irá rotacionar.

Como não podemos determinar para cada moeda cunhada no mundo qual era seu cunho fixo e qual era o móvel, e muito menos qual deles rotacionou em seu próprio eixo, e sabendo que existem máquinas onde ambos os cunhos são móveis, e também que existem outras formas de cunhagem (à balancim, manual, à martelo, à vapor, etc), então é dispendioso (e até impossível) determinar qual dos cunhos foi rotacionado. Pode inclusive ter sido ambos ao mesmo tempo!  Assim sendo, na hora da catalogação, não importará muito qual lado seja registrado como inclinado em relação ao outro.

As empresas certificadoras de moedas, tais como PCGS e NGC encapsulam e identificam moedas comuns com a anomalia “ROTADED-DIES” ou “MEDALLIC ALIGNMENT” (vide imagens abaixo), porém, Faz-se mister observar que esta é uma anomalia de baixo nível, ou seja, extremamente comum, fácil de conseguir nos trocos, encontrável nos “kilowares”, fácil de conseguir com os comerciantes, e que agrega pouco valor às coleções. Na verdade, é mais como que uma curiosidade, e como dissemos acima, sequer deveria constar em catálogos. É assim que funciona nos grandes centros numismáticos mundiais.

Portanto, dizer “invertido”, “horizontal à direita” ou “horizontal à esquerda” também está equivocado, e inclusive confunde a muitos! Tornam complicado aquilo que é fácil e óbvio. O correto é indicar quantos graus há de inclinação. A 180º temos o que se chama erroneamente de “reverso invertido”. Números diferentes disto, são os “reversos inclinados”, “horizontais”, e outros nomes que inventam por aí.

Numismatas sérios de todo o mundo consideram como “colecionáveis” (peças boas) aquelas que possuem mais de 30º de inclinação.

Pra determinar exatamente o grau de rotação de uma moeda “inclinada” ou “horizontal”, use um simples Transferidor de Ângulos em Graus, destes facilmente encontráveis em papelarias.

Para utilizar o Transferidor, toma-se um dos lados como base (por mera convenção o reverso, por este lado ser geralmente o cunho fixo), e verifica-se quantos graus há de deslocamento no ANVERSO (cunho móvel). Simples, porém eficaz. No envelope da moeda, ou holder, anota-se "Rotação de Cunho em XXº". (sendo “XX” o número de graus alcançado pelo Transferidor).

Quanto a valores de mercado das peças, desenhei (amadoramente, mas compreensível) a seguinte ilustração abaixo.

Representado em VERMELHO: Entre 330º e 359º, e 1º a 30º, as peças não são consideradas como Rotação de Cunho, e sim um mero desalinhamento comum, e não devem ser consideradas para coleção (Possuem Rotação de Cunho abaixo de 30º).

Representado em AMARELO: Entre 31º e 169º, e 191º e 329º, (exceto 90º e 270º) são as peças de Rotação de Cunho comuns e de segunda escolha pra uma coleção séria (são as que chamam genericamente de “reverso inclinado”).

Representado em AZUL: Entre 170º e 190º, e também 90º e 270º: São as melhores e mais valiosas peças de Rotação de Cunho (são as que chamam genericamente de “reverso invertido”, e “reverso horizontal à direita/esquerda”).

Simplificando: Procure as peças AZUIS pra coleção. Leve sempre em consideração também o Estado de Conservação.

 

Como mensurar os graus:

Pra facilitar, coloque a moeda em um envelope plástico transparente, ou coin holder, de forma que um dos lados (anverso ou reverso, não importa) esteja perfeitamente alinhado a 0º em seu eixo horizontal, conforme a imagem abaixo. Faça um traço perfeitamente horizontal no envelope ou holder indicando a medida de 0º.

Feito isso, em seguida, vire cuidadosamente a moeda em seu eixo vertical (de forma que o lado pra baixo continue alinhado a 0º), tome o Transferidor de`Ângulos em Graus, coloque a peça em seu centro, e, com o auxílio de uma régua, determine quantos graus há de inclinação com relação ao outro lado da moeda. Ilustro abaixo alguns exemplos:

Moeda com Rotação de Cunho à 10º.
Peça VERMELHA. Abaixo dos 30º, é considerado como um mero desalinhamento corriqueiro,
e não deve ser considerado para a coleção. Descarte.

 

Moeda com Rotação de Cunho à 30º.
Peça AMARELA. A partir deste grau de rotação, a peça passa a ser colecionável.

 

 

Moeda com Rotação de Cunho à 90º.
Peça AZUL. Esta é a que chamam equivocadamente de “reverso horizontal à direita”. 

 

Moeda com Rotação de Cunho à 120º.
Peça AMARELA.

 

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Moeda com Rotação de Cunho à 180º.
Peça AZUL. Esta é a que denominam equivocadamente de “Reverso Invertido”.

 

 

Moeda com Rotação de Cunho à 220º.
Peça AMARELA.

 

 

Moeda com Rotação de Cunho à 270º.
Peça AZUL. Esta é a que chamam equivocadamente de “reverso horizontal à Esquerda”

 

 

330grau

Moeda com Rotação de Cunho à 330º.
Peça AMARELA. O último grau colecionável. Acima disso, de 331º a 360º, deve ser descartado (inclinação menor que 30º em relação ao alinhamento-padrão de 0º).

 

Espero que este pequeno artigo tenha sido redigido de forma a que todos compreendam de forma definitiva quais são as peças colecionáveis da anomalia ROTAÇÃO DE CUNHO. Em caso de dúvidas, a caixa de comentários está logo aí abaixo, não hesite em perguntar.

 

Atualização em 24 Junho ‘2020:

Este artigo foi reproduzido no site «Numismática Castro» em 9 Janeiro ‘2018.
Link: https://numismaticos.com.br/rotacao-de-cunho/