31 março 2017

As “Variantes de Oficina”: Desconhecimento de Causa ou Má Fé?

A postagem «ANOMALIAS EM MOEDAS» foi pioneira nesse segmento na numismática brasileira. Se antes alguém publicou alguma matéria sobre este assunto, o fez em boletins fechados de associações numismáticas aos quais somente seus sócios e membros possuem acesso. Já aqui no blog, qualquer pessoa poderá ter acesso à informação e de forma gratuita.

Recebi diversos elogios através de diferentes canais (e-mail, inbox do Facebook, whatsapp, etc), e também recebi algumas críticas e até mesmo xingamentos e, curiosamente, todas oriundas do Estado do Paraná. (Tenho algumas das “pérolas” em áudio e print-screen e em breve irei publicá-las aqui).

Com a postagem sobre anomalias, iniciou-se uma pequena “febre” nas redes sociais em busca das mesmas. Infelizmente, o que mais temíamos, aconteceu: Pessoas “garimpando” moedas e procurando a menor diferença, o menor defeitinho, para oferecerem a venda a preços exorbitantes, com base e referência no mais absoluto NADA.  Mas agora, temos criaturas FABRICANDO anomalias em casa, o que é pior!

Na numismática não há espaço para achismos. Numismática é ciência, e temos sempre que aprender com aqueles que são mais experientes no ramo. Em síntese, o primeiro pensamento que o colecionador deve ter ao se deparar com uma numisma aparentemente anômala é: «Isto pode ser reproduzido em casa, utilizando ferramentas simples?»

Anomalias que possam ser minimamente imitadas ou reproduzidas em casa usando equipamentos rudimentares não devem ser consideradas a não ser como mera curiosidade ou vandalismo, e seu vendedor deve ser considerado como alguém sem conhecimento de causa, ou, como quase sempre infelizmente acontece, a anomalia não está na moeda, e sim no vendedor, em seu caráter.

Um fenômeno curioso´: Ultimamente, na região SUL do Brasil, tem surgido algumas aberrações numismáticas absolutamente ridículas. Já falamos aqui sobre o «Globo Triplo» em postagens anteriores. Seguem imagens de mais algumas “anomalias” estúpidas com a devida descrição do vendedor e a explicação.

 

Peça oferecida nos meios numismáticos por vergonhosos R$ 500 (Quinhentos Reais!) por um vendedor chamado “Wilson” (omitiremos o sobrenome), oriundo do Estado do Rio Grande do Sul, como sendo “Rara anomalia COROA DE CRISTO”.

Não bastasse o nome completamente idiota e blasfêmio de “Coroa de Cristo”, esta é uma das típicas “variantes de oficina”, criada fora do ambiente da Casa da Moeda. Pode ser intencional, com o fim de enganar colecionadores incautos, ou não-intencional, como p. ex., a moeda ter sido usada como um calço pra um torno de oficina, ou material de teste pra brocas e lixadeiras, e depois posta para circular. De toda forma, o valor disto é ZERO! Não vale sequer o valor de Face, já que se trata de moeda vandalizada.

 

Peça oferecida a vergonhosos R$ 450 (Quatrocentos e Cinquenta Reais!) por um vendedor de nome “Paulo” (omitiremos o sobrenome), oriundo do Estado do Rio Grande do Sul, no encontro da Sociedade Gaúcha de Numismática, em Porto Alegre-RS, como sendo  “Erro anel externo invertido”.

Aqui não restam dúvidas: “Variante de oficina” intencional, criada para enganar colecionadores. Será desconhecimento de causa, ou pura e simples má fé? Eu quero pensar que este vendedor desconhece o processo de fabricação das moedas bimetálicas de R$ 1, o que já é péssimo, já que desconhece o próprio produto que está vendendo.

Na prática: A moeda foi desmontada e remontada ao contrário. Há vídeos no Youtube ensinando como fazer, basta jogar a moeda no chão com muita força e ela desmontará. Veja:


 

O núcleo e o anel externo chegam separados na casa da moeda e um não encaixa no outro. Ambos são colocados na máquina de cunhagem ao mesmo tempo, e é a pressão da cunhagem que junta e fixa as duas partes devido à expansão do metal. Então, ao mesmo tempo ocorre a junção das duas partes e a cunhagem. E por isso mesmo é impossível sair uma peça com núcleo invertido.

Veja o vídeo abaixo, a partir do tempo 3m45s, o momento exato em que o Técnico da Casa da Moeda do Brasil explica esse fato. (Já postei este vídeo aqui no blog uma vez, não custa nada repetir):

 

 

 

 

Mais uma das “variantes de oficina” encontradas com frequência na internet. Pra esta ainda não colocaram algum nome pomposo e ridículo. A segunda peça ilustrada, de R$ 1, é de minha propriedade e eu mesmo peguei no troco do pão recentemente.

Pra isto não há muito o que dizer. Uma simples lixa faz este trabalho. A peça deve ter servido de calço ou apoio pra alguma coisa pesada, e ficou dessa forma. Não importa. É facilmente reproduzido em casa, e o valor numismático destas coisas é igualmente zero.

Concluindo:

O mais irritante nisto tudo é que explicar essas coisas a tais “vendedores” é perder tempo e passar raiva. Por isto mesmo este post é dedicado e é escrito aos COLECIONADORES, aos verdadeiros NUMISMATAS, para que não caiam nesses golpes. Quanto aos vendedores, estes simplesmente “não querem entender”, deixando evidente seu desvio de caráter, na sua busca ensandecida por algum colecionador desavisado que pague o absurdo valor pedido por essas porcarias feitas em casa, cujo valor numismático é zero.

É uma escrotidão sem limites, e o numismata sério deve estar atento a isto.

Um comentário:

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