26 outubro 2016

Quanto Vale a minha Coleção?

Uma dúvida comum que sempre surge entre os colecionadores é justamente esta. Será que, caso algum dia resolva vender meu acervo acumulado cuidadosamente por anos, eu recupere ao menos o valor gasto? Ou, quem sabe, tenha até mesmo lucro?

Isto depende de diversos fatores:

A cultura do país onde se está montando seu acervo é um fator muito importante. Para citar um exemplo: Cartas e envelopes circulados com selos da França ou Inglaterra do período 1850-1870 são vendidas no mercado por valores que oscilam entre € 2 a € 5 cada. Existem aos milhares. Já um envelope com selos do Brasil do mesmo período são absolutamente caros e inalcançáveis para a maioria dos colecionadores, e isto se explica pelo fato de que na Europa, as correspondências eram guardadas, como arquivos familiares. Já no Brasil, e em outros países do terceiro mundo, a missiva era posta ao lixo tão logo fosse lida, ou atirada fora em um “bota-fora” de papéis velhos sem serventia.

Carta circulada para a cidade de Hull, Inglaterra, com selo «Penny Red» emitido em 1841
O terceiro selo postal emitido pela Inglaterra e também no mundo! Catálogo Michel #3.
Valor de mercado de uma peça destas, com 175 anos de idade? R$ 40 (quarenta reais).
Gostou desta peça? Eu te vendo por este valor, e tenho várias outras ainda mais baratas, basta entrar em contato.


Um outro exemplo: Moedas com a anomalia “mula”, como o último caso conhecido no Brasil («50 Centavos sem o zero»). Tal anomalia em qualquer moeda dos Estados Unidos, teria valor na casa dos 5 a 6 dígitos. No Brasil, é vendida por poucos trocados, por não haver forte procura pela peça, e principalmente por haver um completo desconhecimento e entendimento do que vem a ser tal peça.

Também não é a “antiguidade” que define. Papiros egípcios legítimos do tempo dos faraós, Moedas romanas com 2 mil anos de idade, ou 960 Réis do Brasil em prata e com 200 anos de idade podem ser compradas no mercado por poucos trocados. Já uma moeda cunhada recentemente, pode ser muito mais valiosa, mesmo sendo relativamente comuns e fáceis de encontrar, justamente por haver forte procura e pouca oferta (p. ex., 10 Centavos 1999 Flor de Cunho, 1 Real Entrega da Bandeira Olímpica, etc).

A qualidade da coleção também é um fator importante. Selos modernos, somente tem valor de mercado se novos com goma. Moedas modernas, salvo poucas exceções, somente flor de cunho. Cédulas, igualmente impecáveis, sem dobras, sujeira, rasuras ou manchas, tal como saíram do banco.

É comum pensar que as peças possuem “alto valor histórico” por conterem sinais do tempo e de manuseio, sujeira, amassados, manchas, etc, mas este é um argumento que o mercado simplesmente não aceita. Você pode até preferir na sua coleção ter selos carimbados ou moedas sujas, ensebadas e circuladas, cédulas rasgadas e mofadas. Mas, saiba que este é um casamento! Se pensar em vender depois, a procura será baixa, e dificilmente recuperará o valor investido.

Mas o fator mais importante de todos, ao meu ver, é: AQUILO que se coleciona, ou seja, objeto da sua coleção, pois é o determinante principal da procura e da oferta. Por exemplo, moedas de Ouro. Na pior e mais terrível das hipóteses, recupera-se parte do valor investido vendendo a peso, em joalharias. Por outro lado, você pode ter um magnífico acervo de documentos com assinatura de alguma importante figura do passado, mas se somente você ou algumas pouquíssimas pessoas igualmente de gosto exótico também colecionarem ou tiverem interesse nestes itens, prepare-se para ouvir propostas de aquisição de sua peças a valores extremamente baixos, senão ofensivos aos ouvidos, valores geralmente bem abaixo do que foi pago inicialmente. Sua peça pode ser inclusive única e insubstituível. Mas se praticamente ninguém se interessa por elas, o valor venal com certeza é muito baixo e não adianta espernear por isso. Logo, por mais que se goste das peças, por mais importância histórica que tenham, o mercado é cruel, e o mesmo não atribui cotações a valores sentimentais, e sim, à procura e à oferta.

Por isto, para evitar prejuízos ou aborrecimentos futuros, deve-se ler o máximo que puder sobre os objetos que compõem seu acervo, e especialmente ficar atento para o mercado que há para suas peças e qual a procura e oferta que há pelas mesmas.

Deixe um comentário abaixo.

22 outubro 2016

Moeda «5 Centavos 1990 Pescador»

 


Antes de mais nada:
Não é 5 Centavos 1989 e não é 5 Cruzeiros 1990. Estas duas últimas são vendidas a 20 reais O QUILO. Confundir estas moedas é o mesmo que não saber o quê se está colecionando. Embora os colecionadores tentem encontrá-la no meio das comuns, em “garimpagens”, nunca irão achar. As que estão no mercado são mistérios de nossa numismática.

Essa moeda é do padrão monetário CRUZADO NOVO. Nesse padrão são apenas DEZ moedas cunhadas, sendo uma delas em prata. Não é Cruzados, e não é Cruzeiros. Quando foi lançada, o novo Presidente da República, Fernando Collor, assumiu o poder e mudou o padrão monetário pra CRUZEIROS logo no primeiro dia de mandato! Por isso essa moeda nem chegou a circular, e é um mistério como algumas conseguiram escapar à fundição em alguma siderúrgica. Assistam ao vídeo:

 

 

Empossado numa quinta-feira, 15 de Março de 1990, Fernando Collor anunciou seu plano econômico no dia seguinte à posse, ou seja, logo no primeiro dia de governo: Anunciou o retorno do Cruzeiro como unidade monetária em substituição ao Cruzado Novo, vigente desde 15 de janeiro de 1989 quando houve o último choque econômico patrocinado por seu antecessor José Sarney.

O Cruzeiro voltaria a circular em 19 de março de 1990 em sua terceira (e última) incursão como moeda corrente nacional, à razão de NCz$ 1,00 = Cr$ 1,00 (1 Cruzado Novo = 1 Cruzeiro, só mudou o nome da moeda novamente, pela terceira vez na história, pra Cruzeiros), até ser substituída pelo Cruzeiro Real em 1993. Logo, a cobiçada moeda 5 Centavos de Cruzados Novos 1990, fabricada em fevereiro, sequer teve tempo hábil pra se fazer circular.

Uma curiosidade: TODAS as moedas 5 CENTAVOS 1990 possuem um ponto na data entre o segundo 9 e o 0, ficando 199.0 na data.

Dito isto, é preciso afirmar: Sempre que alguém põe um exemplar dessa moeda à venda, a diversão é garantida: As pessoas dão a clara impressão de não saberem sequer o que colecionam. O analfabetismo funcional é gritante e fica muito evidente em muitos. Ninguém lê os catálogos! Só vêem preços! De fato, sempre que vemos esta moeda à venda com algum comerciante, aparecem várias pessoas questionando o elevado preço, e afirmando que possuem ou possuíam “kilos” da mesma em casa e afirmando ser uma moeda muito comum, na óbvia confusão com as extremamente comuns 5 Centavos 1989 e 5 Cruzeiros 1990. Há inclusive aqueles que a confundem com a 10 Cruzeiros 1991, que é muito diferente inclusive no diâmetro.

 

 

Nota importante: Não se trata de uma moeda “rara” como inseri na imagem. Claro que não considero esta moeda como sendo "rara", e sim no máximo como escassa ou difícil. Raras são cunhagens abaixo de 100 exemplares. Coloquei "Rara" apenas pra exemplificar a diferença entre as comuns 5 Centavos 1989 e 5 Cruzeiros 1990.

A tiragem, já baixa, de 934.000 exemplares cunhados oficialmente, não chegou a ser inserida no mercado, sendo destruída antes da distribuição aos bancos. Nenhuma foi posta em circulação, pois fabricadas no final de Fevereiro de 1990, em Março mudou-se o Governo, mudou-se o sistema monetário de Cruzado Novo pra Cruzeiro, e a inflação “comeu” o valor, já baixo, dessa peça. Na prática, quando iam ser distribuídas, seriam necessárias centenas delas pra se comprar uma balinha ou pirulito no mercado. Resultado: Fundição em siderúrgica. Nenhum exemplar deveria ter escapado a este destino, mas... algumas estão por aí.

Logo, quantidade de emissão é uma coisa. Colocação em circulação é outra. O mesmo fenômeno ocorreu com a cédula da Baiana, onde a quantidade de emissão é alta, mas o que efetivamente circulou foi pouco e por isto é uma peça escassa e valorizada.

Não é uma moeda difícil de se encontrar nas Casas Numismáticas, com comerciantes independentes, etc, mas os preços são incrivelmente altos, variando entre R$ 150 e R$ 250. O que se observa, na realidade, é uma supervalorização diante de uma demanda que cai nas mãos de comerciantes que procuram exorbitantes lucros. Esse fenômeno é um câncer da numismática, que se espalha quando os comerciantes mais honestos passam a adotar os mesmos preços ao observar que podem potencializar seu lucro. Esse problema também é agravado pela escassez relativa, isto é, diante de uma cunhagem alta de outros anos, do mesmo valor facial e até mesmo de outras moedas, é difícil encontrar essa peça em grandes lotes. Esse fenômeno é o mesmo visto em peças como 1 Real 1998 Direitos Humanos, 1 Real 2012 Bandeira Olímpica, 1 Centavo 1990, dentre outras.

Mas… Se a moeda de 5 Centavos de Cruzados Novos foi retirada antes mesmo de se fazer circular, devido à inflação tê-la desvalorizado ao pó, porque o mesmo não foi feito com a moeda de 1 Centavo de Cruzado Novo, que valia cinco vezes menos?

1 Centavo de Cruzado Novo:
em 1989 são 208.100.000
em 1990 são apenas 1.000.000

Deveria pela lógica ser escassa como a 5 Centavos de Cruzados Novos 1990 e igualmente recolhida. Mas não é, e circulou. Foi criada em 1989 pra substituir a moeda de Cz$ 10 (Dez Cruzados) que passaram a corresponder a NCz$ 0,01 (Um Centavo de Cruzado Novo). É o chamado "Plano Verão".
.
A resposta é: O CENTAVO como unidade monetária não foi abolido quando a moeda voltou a ser chamar CRUZEIROS, e isto está na LEI Nº 8.024, DE 12 DE ABRIL DE 1990, onde temos:

Art. 1º Passa a denominar-se cruzeiro a moeda nacional, configurando a unidade do sistema monetário brasileiro.
.
§ 1º Fica mantido o centavo para designar a centésima parte da nova moeda.

§ 2º O cruzeiro corresponde a um cruzado novo.

Portanto, o CENTAVO era obrigação legal, e por isso foi mantido e posto em circulação, mesmo sem nenhum poder de compra. Já a 5 Centavos, que estava em circulação, com data 1989, foi recolhida, e a já produzida mas não distribuída 1990, sequer chegou a circular.

Explicação dada, deixem seus comentários!

 

Atualização em 24 Junho ‘2020:

Este artigo foi reproduzido no site «Numismática Castro» em 1 Fevereiro ‘2018.
Link: https://numismaticos.com.br/o-importante-nao-e-o-peixo-e-o-pescador/

19 outubro 2016

Métodos de Cunhagem Ordinária, «Brilliant Uncirculated», e «Proof»

Uma dúvida relativamente comum que tem surgido ultimamente:

Qual a diferença entre a cunhagem Ordinária, Brilliant Uncirculated e Proof?

Veja o vídeo abaixo (em inglês), produzido pela Royal Mint, a Casa da Moeda da Grã-Bretanha, e no qual também é possível visualizar um pouco a fabricação dos cunhos para cada método de cunhagem:



Para ilustrar os três principais métodos de cunhagem utilizados no Brasil, me servirei da emissão «Entrega da Bandeira Olímpica», de 2012. Assim sendo, temos:


CUNHAGEM ORDINÁRIA:
Método pelo qual são cunhadas as moedas para circulação comum, em todo o mundo. O cunho e os discos não são polidos. No caso das atuais moedas do Plano Real, a máquinha de cunhagem produz 700 moedas por minuto. Costumam vir, no Brasil, em sachês com dezenas de unidades. Em outros países, as moedas vem acondicionadas em rolos. Leves arranhões ou pequenas marcas de batidas são admitidos. É possível encontrar moedas com defeitos, ou anômalas.


CUNHAGEM BRILLIANT UNCIRCULATED: O cunho recebe polimento, e as moedas são cunhadas na taxa de 1 moeda por segundo, aproximadamente. Isto as torna mais brilhantes que as de cunhagem ordinária, e com detalhes da gravação mais nítidos que no método de cunhagem ordinária. É utilizado para sets anuais e conjuntos especiais para colecionadores. Um exemplo recente, são as moedas das modalidades olímpicas em blisters ou cartelas.


CUNHAGEM PROOF: O acabamento é da mais alta qualidade. O cunho, totalmente polido até se tornar espelhado, bate até 6 vezes em cada disco, tornando detalhes intrincados do design absolutamente nítidos, e o campo liso das moedas, completamente espelhado. Cada disco é cuidadosamente inserido e recolhido manualmente na máquina de cunhagem, com utilização de luvas e recebe uma limpeza com ar comprimido antes da cunhagem, para eliminar quaisquer vestígios de sujeira ou poeira. A taxa de produção é de aproximadamente 50 moedas por hora. Cada moeda, após a cunhagem, é analisada individualmente e as defeituosas são descartadas. É utilizado para moedas de coleção, geralmente em metal precioso (Ouro ou Prata). Costumam vir em estojos ou caixas de relativo luxo.


Uma observação importante: Moedas com cunhagem Brilliant Uncirculated, e principalmente, Proof, não devem jamais ter as faces tocadas com as mãos nuas, sob pena de marcar a moeda irremediavelmente com impressões digitais. Mesmo o mais macio dos panos, como os de microfibra para limpeza de lentes de óculos, as arranham. Recomenda-se enfaticamente jamais abrir as cápsulas que as protegem. Esta recomendação também é válida para moedas com cunhagem ordinária. O ideal é não tocar em moeda alguma com as mãos nuas, utilize luvas!

Qualquer dúvida não deixe de comentar!

16 outubro 2016

A Antiga Máquina de Cunhagem «Schuler»



No vídeo abaixo, a partir de 18m20s, é possível ver a antiga máquina de cunhagem SCHULER, importada da Alemanha Nacional-Socialista em 1937, e que é a responsável pela cunhagem das moedas brasileiras durante o período 1937-1973.



O vídeo em seu todo é muito instrutivo e recomendo que seja assistido na íntegra.

A máquina SCHULER cunhava 110 moedas por minuto (contra 700 das máquinas atuais), e hoje se encontra no Museu de Valores do Banco Central do Brasil, em Brasília-DF, ainda em funcionamento, cunhando medalhas de souvenir das visitas ao Museu.


As medalhinhas-souvenir existem nas versões em Aço Inox e em Bronze-Alumínio.

15 outubro 2016

Moeda «50 Centavos sem o Zero»

Cortesia da imagem: Warley Soares

Esta moeda deveria constar no artigo anterior sobre «Anomalias em Moedas», no entanto achei melhor redigir um artigo específico por ser necessário explicar muitos detalhes.

A moeda: Trata-se de um grave erro de fabricação da Casa da Moeda do Brasil, no qual, segundo informações obtidas pela imprensa, um funcionário inseriu equivocadamente um cunho de anverso da moeda de 5 Centavos 2012 na máquina de cunhagem da moeda de 50 Centavos.

Como em todo desastre de grandes proporções, não temos apenas um único erro, e sim vários erros em cadeia. Logo, temos também grave falha no Controle de Qualidade, Produção e Distribuição não só da Casa da Moeda, mas também do Banco Central e dos bancos brasileiros que receberam os sachês com moedas e distribuem o troco para a população.

Foram cunhadas aproximadamente 40.000 moedas com tal anomalia, o equivalente a 2 horas de produção. Tal erro foi OFICIALMENTE reconhecido e documentado pelo Banco Central (clique para ver o texto) e aparentemente circulou somente na cidade do Rio de Janeiro-RJ. Imediatamente após a descoberta, já em circulação entre a população, o Banco Central informou que estas moedas não teriam curso legal, e seriam recolhidas, podendo ser trocadas em qualquer agência bancária pelo valor de 50 Centavos, sem prazo de troca. Não é possível estipular a quantidade exata de moedas cunhadas (estranho que a Casa da Moeda não saiba exatamente quantas unidades produz…), tampouco temos a informação de quantas foram recolhidas.

Algumas peças, claro, escaparam para o mercado numismático, e os valores subiram às alturas, especialmente por se tratar de uma novidade e haver forte procura.

Vamos então a parte técnica sobre a moeda anômala verdadeira:

A moeda é exatamente IGUAL em diâmetro, espessura e peso que as moedas comuns de 50 Centavos. Sua data deve ser, obrigatoriamente, a de 2012. Seu disco possui a inscrição «Ordem e Progresso ☆ Brasil ☆» na orla, que pode estar para cima ou para baixo, como em qualquer moeda comum de 50 Centavos. O reverso é o da moeda de 50 Centavos, e ilustra normalmente o Barão do Rio Branco. Somente o seu anverso é que possui a diferença, onde foi batido o cunho de 5 Centavos 2012, ao invés do cunho de 50 Centavos 2012.

Além do mais, por ter tido pouca circulação, é preferível que ainda apresente boa parte, senão toda, de seu brilho de cunhagem original.

Por ser um erro de cunhagem gravíssimo, com documentação oficial do Banco Central admitindo sua existência e principalmente, CIRCULAÇÃO, que é o mais importante de tudo, tal peça deve, em minha humilde e sincera opinião, obrigatoriamente constar nos tal peça deve, obrigatoriamente constar nos Anais Numismáticos brasileiros.

Quanto a valores de cotação e mercado, não sendo esta minha área de atuação na numismática, não emitirei opinião a não ser que estes devem ser regidos pela Lei da Procura e Oferta.

Falsificações: Com os preços nas alturas e muita especulação e pouca disponibilidade, aliadas à falta de conhecimento, as falsificadas – para enganar colecionadores incautos –  começaram a surgir no mercado. Algumas razoavelmente bem feitas, outras nem tanto.



Vimos os seguintes casos de falsificadas óbvias:

- Reverso da moeda de 5 Centavos, com a efígie do Tiradentes.
- Data “2013”, e ainda por cima, em alto relevo, quando a original é “2012” e em baixo relevo.

Há ainda alguns casos relatados nas redes sociais onde uma moeda de 50 Centavos original é escavada no anverso com ferramentas elétricas de oficina (Broca Forstner?), em seguida inserem uma moeda de 5 Centavos 2012 no buraco formado, e em seguida soldam, lixam e dão banho de Níquel em toda a peça. Mas tudo facilmente identificável, caso a peça seja observada e analisada com cuidado e atenção, com auxílio de uma lupa, em seus mínimos detalhes.

Um outro fator de identificação, porém mais avançado, é o fato conhecido por numismatas experientes, de que cada cunho de cada moeda do Plano Real em cada ano possui ligeiras diferenças de design. Portanto, o cunho da moeda original deve ser, necessariamente, o cunho da moeda de 5 Centavos 2012. Caso seja identificado o design de cunho de 5 Centavos de qualquer outra data, a peça é, com 100% de certeza, falsificada, pois nas suas curtas duas horas de produção, seus cunhos não foram trocados (se o tivessem feito, teriam percebido o erro ainda na Casa da Moeda, e a produção teria sido descartada, jamais chegando nas mãos da população).


Falemos então sobre a questão técnica e sua definição:

Trata-se de uma anomalia do mais alto nível possível, de extrema gravidade, da mais alta raridade, muito valorizada em qualquer peça de qualquer local do mundo, chamado MULA.

MULA (Mule Coin): Também chamada de “Moeda Híbrida” no Brasil. Moeda cunhada cujos anverso e reverso não correspondem ao que foi originalmente projetado para a peça. Ou seja: Uma troca de cunhos, que podem ser intencionais, por boa ou má fé, ou – caso da nossa “50 Centavos 2012 sem o zero” – produzidas por um grave erro de funcionários que confundiram e instalaram os cunhos errados na máquina de cunhagem. São peças muito procuradas, e os exemplares costumam alcançar valores elevados no mercado.

O colecionador de moedas anômalas Celso Suzuki, no Boletim #51 da AFNS, artigo «Anomalias e Variantes», página 16, define da seguinte maneira resumida:

«HÍBRIDA: Moeda que apresenta anverso ou reverso diferente do que originalmente estabelecido».

As primeiras Mulas são encontradas entre antigas moedas Gregas e Romanas. A opinião é dividida entre aqueles que seguem a tese de que são acidentais, como resultado de uma combinação incorreta de matrizes de cunho que foram retiradas de uso, ou o trabalho de cunhadores que utilizam cunhos roubados de uma Casa da Moeda, quando os mesmos deveriam ter sido inutilizados ou destruídos.

A nomenclatura, MULE, utilizada internacionalmente por numismatas de todo o mundo, deriva do animal mula, a descendência híbrida entre um cavalo e um burro, devido que a moeda possui dois lados destinados a moedas diferentes, tanto quanto uma mula possui pais de duas espécies diferentes.

Existem diversos exemplos recentes de MOEDAS MULAS na numismática mundial. Cito alguns exemplos:

Em Março 2014, a Royal Mint da Grã-Bretanha confirmou a existência de um par mula em duas moedas de Prata .999 de £ 2 comemorativas, produzidas em Dezembro 2013. As matrizes incompatíveis foram utilizadas em 17.000 moedas «Britannia» e 38.000 moedas do «Ano Lunar do Cavalo».

Neste caso, a mula foi produzida através da combinação acidental das matrizes.

As moedas mulas do «Ano Lunar do Cavalo» e «Britannia». O anverso de ambas as moedas apresenta a Rainha Elisabeth II.
A versão com “denteação” nas bordas deveria estar na moeda «Britannia», e a versão com bordo liso, para a «Ano Lunar do Cavalo».


Em 1967, a Nova Zelândia emitiu uma moeda de 2 Cents, com anverso da moeda de 5 Cents das Bahamas.

À esquerda, a peça original. À direita, a moeda mula.


Exemplos subsequentes na Nova Zelândia incluem ainda a moeda 5 cents 1981 com reverso de 10 cents do Canadá, e também 50 cents com $1 canadense, ambos extremamente raros.

Uma das mais famosas moedas mula dos últimos tempos, vem dos Estados Unidos, e é o «Sacagawea Dollar/Washington Quarter», caracterizado por um anverso de uma moeda Washington Quarter, e reverso da Moeda $1 Sacagawea. Inicialmente foi pensado que a moeda foi intencionalmente cunhada por um empregado mal intencionado da US Mint, no entanto após uma perícia, foi confirmado em Julho 2000 ser um erro legítimo, criado pela substituição acidental de um cunho rachado do Sacagawea por um de anverso de Washington Quarter. Vários milhares de moedas foram relatados como cunhadas antes que o erro fosse descoberto, e os empregados da US Mint os recuperou e destruiu a maior parte deles.

Em Abril 2013, tornam publicamente conhecidas 10 peças sobreviventes, que foram certificadas, graduadas e encapsuladas. Uma das peças, NGC MS-67, foi vendida na reunião da American Numismatic Association na Filadélfia, em Agosto 2012, por US$ 155.250. Mais informação aqui.

$1 Sacagawea Dollar, comum

A Raríssima moeda mula «Sacagawea Dollar/Washington Quarter»


No Brasil a famosa «50 Centavos sem o zero» não é o caso único. Não é único nem mesmo no atual sistema monetário, o Plano Real: Temos conhecimento de algumas peças de 5 Centavos 1994 que possui o reverso da moeda 1 Centavo 1994.  Alguns colecionadores e vendedores a chamam de “5 Centavos cabecinha”.

Ao contrário da «50 Centavos sem o zero», esta é praticamente desconhecida entre a maioria dos numismatas. Estão até hoje, 22 anos após a emissão, em circulação pelo Brasil afora, mas podem passar desapercebidas por ambas serem moedas muito pequenas e a diferença da moeda comum para a moeda mula não ser de tão fácil percepção à primeira vista. Basta perceber que a cabeça da Efígie da República é ligeiramente menor do que deveria ser numa moeda comum de 5 Centavos da 1ª Família, dando a impressão de um início de cunhagem descentrada no reverso. Quem sabe você não encontre uma após ler este artigo? Fique de olho no troco do pão!

A peça abaixo está a venda no site da Filatélica Zeppelin (clique para acessar).


Cabe ressaltar, de forma enfática, que as moedas mulas podem ser facilmente confundidas por colecionadores menos experientes com um outro erro, também de alta gravidade, porém muito menos incomum, e que, aqui no Brasil, ocorreu principalmente com Cruzeiros dos anos 1970’s e sendo facilmente encontrada no comércio numismático, o qual apresentamos a seguir:


CUNHAGEM EM DISCO INAPROPRIADO (Struck on Wrong Planchet): Também chamado no Brasil entre alguns colecionadores de “Disco Impróprio”, “Disco Menor”, entre outras nomenclaturas. Ocorre quando uma máquina de cunhagem que está cunhando uma determinada moeda é alimentada com discos em branco de outra denominação. O resultado da produção é uma moeda cunhada com um desenho que seria para um disco de tamanho diferente. Este tipo de erro, quando identificado, é capturado durante o processo de fabricação e destruído.

Exemplos:


Moeda de 10 Centavos 1977 cunhada no disco menor, original para 5 Centavos.



Moeda de 50 Centavos 1970 cunhada no disco menor, original para 20 Centavos.


Portanto, anote:

A diferença principal entre MULA e DISCO INAPROPRIADO:

- Na MULA, um ou ambos os cunhos foram trocados de forma equivocada.

- No DISCO INAPROPRIADO, a máquina foi alimentada com discos de outra denominação.


Pode ainda ocorrer confusões com o seguinte erro:

DUPLA DENOMINAÇÃO (Double Denomination): Moedas prontas que foram cunhadas uma segunda vez, em uma máquina de denominação diferente da original. São identificáveis por ainda apresentarem detalhes do design da moeda anteriormente cunhada, o que possibilita identificar qual foi a primeira cunhagem. Podem ser propositais ou não. Mais raros ainda, denominações batidas em um disco já cunhado de alguma moeda estrangeira. Numismática Bentes (clique no link para obter explicações detalhadas) nos contempla com a visão de uma destas peças de seu acervo, um 80 Réis de Cobre do Império do Brasil recunhado sobre «One Large Cent» dos Estados Unidos:

Observação: Este erro não deve ser confundido com RECUNHOS OFICIAIS nos quais o governo de um país compra estoque de moedas de outra nação com o fim exclusivo de cunhar sua denominação sobre a moeda estrangeira, tal como ocorre com as moedas da Colônia do Brasil em Prata de 960 Réis (Patacões), recunhados sobre moedas de diversas origens.

Torço para que o artigo tenha sido redigido de forma clara e que todos tenham compreendido bem.

Caso tenha alguma dúvida, não hesite em deixar um comentário!

14 outubro 2016

Limpeza de Moedas

Antes de tudo: A moeda é sua, e você faz o que quiser.

Inclusive, é por sua conta e risco.

Quem nunca limpou uma moedinha que atire a primeira pedra. Creio que muitos fizeram isto no começo de suas coleções, inclusive arruinando para sempre algumas peças. Eu fiz isto. Você com certeza também fez. No começo achávamos as pátinas feias, e hoje procuramos por elas. Não é assim? A medida que o tempo foi passando, foi-se aprendendo mais sobre a Numismática, e as coisas mudaram, certo? Ou não?

Temos coletado nas redes sociais, blogs, websites de casas numismáticas e até no site do Banco Central informações acerca da melhor maneira de se limpar moedas.

A quantidade de diferentes materiais e receitas mencionadas por leigos e até mesmo por colecionadores experientes, e até mesmo em catálogos, e em diversos locais é assustadora e dá a impressão de estarmos lidando não com numismatas, mas sim com nutricionistas, cozinheiros, químicos, ou quiçá, alquimistas em busca da Pedra Filosofal. Não custa dizer que muitos desses produtos são altamente tóxicos e perigosos à saúde. Mas vejamos uma pequena, - e não completa, embora exaustiva – amostra do que recolhi:

Catchup, Molho de Pimenta Gota, Mostarda, Vinagre, Molho Barbecue, Querosene, Jato de Areia, Thinner, Lixa d’Água, Azeite, Óleo de Côco, Óleo de Amêndoas Doces, Óleo Diesel, Acetona 100% Pura, Pasta de Dentes, Água com Sal, Água com Açúcar, Água Destilada, Água Oxigenada, Água de Bateria, Banho-Maria, Soda Cáustica, Palha de Aço, Escova de Dentes, Massa de Polir, Escova de Latão, Polidor de Jóias Silvo/Brasso, Polidor Automotivo Grand Prix, Limpol Limpa Inox, Cera para Pisos, Solução de Amônia, Limão, Detergente de cozinha, Pasta de Sabão de Côco, Pinho Bril, Eletrólise, Borracha, Spray WD 40, Coca-Cola, Descarbonizante Spray Car 80, Limpador de Jóias Monzi, Flanela de Polimento, Álcool Isopropílico, Álcool de Cereais, Kaol, Carbonato de Sódio, Bicarbonato de Sódio, Trissulfato de Sódio, Cromato de Sódio, Ácido Nítrico, Vaselina Líquida, Sal de Frutas ENO, Detertec 7, Grafite em Pó...

ad infinutum!

Mas esqueçam esses ingredientes todos, pois são absolutamente inúteis perto da antiga e famosa Pomada de Banha do Peixe Elétrico da Amazônia! Santo de casa sim, é que faz milagre! Essa sim, cinco estrelas, top de linha, um grande produto natural e de procedência 100% nacional, altamente recomendada por grandes comerciantes de moedas das redes sociais, verdadeiros “mumismatas” (com M, de MULA), para transformar moedas sujas, encardidas e muito circuladas, novamente em moedas Flor de Cunho, muito brilhantes, como se estivessem acabado de sair da “impressão” e da “pintura”!

 

Uso EXTERNO, ok?


Em Junho 2016 estive em São Paulo-SP visitando algumas Casas Numismáticas, e em uma delas, em uma galeria da Rua Barão de Itapetininga, após bater um papo com o vendedor, precisei ir ao banheiro. O que vimos? Havia, sobre a pia, uma escova de latão, bem gasta. Nem preciso dizer que saí correndo de lá.

Há diversas “receitas” de limpeza de moedas na internet, algumas tão inacreditáveis que não vou nem comentar, e estão abundantes em antigos catálogos numismáticos e até mesmo em boletins antigos de Sociedades Numismáticas SÉRIAS! Por sorte, nos últimos anos, o colecionismo de moedas tem se tornado mais exigente com o advento da tecnologia digital e o auxílio de novas ferramentas (microscópios, scanner, fotografia digital, etc...) e sinais de limpeza não tem sido mais admitidos por numismatas sérios e exigentes.

Há basicamente dois grandes problemas na limpeza: Abrasão/Fricção e Umidade. Mesmo uma delicada flanela de microfibra utilizada para limpeza de lentes de óculos deixam nas peças pequenos “hairlines”, riscos finíssimos visíveis com lupa. Além do mais, dos vários materiais que forem utilizados, no final terá que se enxaguar a moeda com água, e a de torneira contém flúor, cloro e outros minerais que prejudicam os metais, além da própria umidade.

Então, o que fazer? Minha recomendação é simples e enfática: Não faça nada! Não limpe, deixe como está. Adquira moedas Flor de Cunho pra sua coleção, não perca tempo limpando moedas circuladas ou sujas. Moedas limpas ou que demonstrem sinais de limpeza jamais irão valorizar, pelo contrário, sempre desvalorizam, sem exceções.

Você passaria palha de aço em uma moeda de ouro, correndo o risco de diminuir o seu peso e conteúdo de metal precioso? Se não, porque o faria em uma de cuproníquel, aço inox ou latão? O resultado é o mesmo.

Obviamente, a regra de “não limpar moedas” se torna inválida para aquelas peças encontradas enterradas. E para este caso não serei eu a dar a receita de limpeza, pois isto é trabalho pra arqueólogos profissionais gabaritados e, como numismata, tenho uma reputação a zelar.

Poderão sempre argumentar que ao mesmo tempo que existe o numismata exigente e criterioso, que procura peças no melhor Estado de Conservação possível, também existe o iniciante com parcos recursos e que quer somente completar o álbum e ter moedas limpinhas e brilhantes na coleção.

Oras, a numismática, além de ciência, também é um hobby, e como tal, deve ser prazeroso. Por isso mesmo, existem preçários e existem Catálogos. Por isso mesmo, existem receitas “miraculosas” para limpar moedas com Pimenta Gota e Catchup e recomendações sérias para que não sejam limpas. Por isso, há alvéolos de grampear made in china e há holders autoadesivos alemães e cápsulas de acrílico de primeiríssima linha. Por isso, há os álbuns feitos em papel e há medalheiros em acrílico ou madeira de lei com veludo. Por isso, há moedas baratas de latão e há moedas caríssimas de ouro. Então, tem pra todos os gostos e bolsos, tem pra todo mundo, e, como foi dito no começo, a moeda é sua, e você faz com a mesma o que bem entender, inclusive o “melhor” método de limpeza que já vi, que consiste em por a moeda dentro de uma Batata, e deixar esquecida ao sol durante algumas semanas.

Sinta-se à vontade para deixar o seu comentário!

 

P.S: Infelizmente o nível educacional no Brasil é um pouco baixo, e nem sempre a ironia ou o sarcasmo são compreendidos. Então, sendo claro: Não passe pomada de banha de peixe elétrico da Amazônia nas tuas moedas, muito menos as coloque dentro de batatas. É óbvio ululante que irá destruí-las. As vezes penso que nem precisava avisar isso, mas…mas… quem está nos grupos de numismática das redes sociais sabe o nível de coisas bizarras que vemos diariamente.

12 outubro 2016

Um pouco mais sobre a anomalia «Cunho Marcado», especificamente a tal “variante globo triplo”

A postagem anterior sobre a insignificante e comum anomalia chamada por leigos e ignorantes de Moeda «Globo Triplo» tem causado polêmicas em alguns grupos de WhatsApp sobre numismática, nem tanto entre numismatas e colecionadores, e sim com meros pequenos comerciantes de moedas das modalidades olímpicas. Eu os chamo de “comerciantes olímpicos” já que são verdadeiros campeões - medalha de ouro - em falar (e espalhar) bobagens sobre numismática nas redes sociais.

Minha intenção ao publicar tal matéria foi a de informar, já que são escassas no Brasil as informações sobre anomalias em nossas moedas. Temos um grupo no Facebook no qual diariamente surgem postagens dos membros que encontram anomalias das mais diversas em nossas moedas, e não sabem do que se trata. Em vários casos, não são pessoas leigas em numismática: São colecionadores sérios que precisam de informação.

Tenho também a intenção de desmistificar: Ou seja, acabar, extirpar, cortar pela raiz vários mitos que existem na numismática brasileira, criados por comerciantes com a clara intenção de supervalorizar anomalias comuns com intenção de benefício financeiro próprio à custa de incautos e muita desinformação, e que são causadores de grande vergonha no exterior.

Na postagem sobre Anomalias em Moedas, fiz questão de colocar o nome correto de cada uma delas, com as nomenclaturas utilizadas internacionalmente e devidamente traduzidas para o português, além de seus apelidos (mesmo os esdrúxulos) mais conhecidos no Brasil, e em seguida, seu nome em inglês, utilizado internacionalmente, facilitando com isto, para o interessado, pesquisar nos sites de busca mais informação que lhe convenha. Os nomes em inglês são palavras-chave para pesquisa! Grande parte da informação provém de estudos oficiais da ANS – American Numismatic Society, de seus associados, e postagens em fóruns internacionais em que participo, em língua inglesa, espanhola, russa e ucraniana, nas quais sou fluente.


 


Ao contrário do Brasil, onde raramente algum funcionário da Casa da Moeda dá alguma palestra, (geralmente repleta de “encheção de linguiça”), e as informações boas e sérias são extremamente escassas, nos EUA e em diversos países da Europa a numismatica é levada a muito sério, e Casas da Moeda nacionais, como a americana US Mint explicam com detalhes aos membros das Sociedades Nacionais de Numismática cada defeito que ocorre na confecção de moedas, e como os mesmos ocorrem. Estas entidades publicam os estudos em boletins, nos fóruns abertos ao público e nos reservados aos sócios.

A anomalia «CUNHO MARCADO», que gera o tal “globo triplo” nas moedas brasileiras e o que outros leigos chamam de “data vazada”, “data chupada”, “cunho chupado”, “cunho umbigado”, dentre outros nomes igualmente ridículos, não é uma exclusividade da Casa da Moeda do Brasil. A mesma ocorre em moedas do mundo inteiro, e temos muitos exemplos em moedas estrangeiras.



Se temos “globo triplo”, o Canadá tem “montanha extra”!


Como eu havia dito anteriormente, NUMISMÁTICA É CIÊNCIA. Como tal, qualquer afirmação contra ou a favor deverá vir devidamente embasada em provas, fatos, estudos, ilustrações e boa argumentação. Creio que cumpro com tais requisitos mínimos em minhas postagens. Tal anomalia já foi amplamente estudada e desmistificada por Sociedades Numismáticas internacionais de forte renome e por numismatas de calibre, de todo o mundo. Estudos são publicados internamente para sócios e externamente em diversas páginas, boletins, periódicos e websites, e muita coisa é facilmente encontrada na internet.

Bater o pé, espernear e simplesmente dizer “está errado” ou “não gostei” não adianta, e terá unicamente o efeito de causar boas gargalhadas entre nós. Além do mais, deixará claro e evidente que alguns comerciantes devem possuir o tal “globo triplo” em grande quantidade, e que, após minha matéria, estejam temerosos de que suas vendas venham a despencar, pois os colecionadores estarão agora devidamente informados. Por isto, a birra e o esperneio.

Portanto: Argumente! E com evidências! E nesta ciência específica, que é a numismática, sempre temos algo a aprender. Sou o tipo de pessoa que se sente temerosa com elogios, eu gosto mesmo é das críticas, principalmente as bem fundamentadas, pois nelas temos a oportunidade de nos aperfeiçoar e aprender mais. Desça a lenha sem dó, eu não vou te morder por isso, desde que tenha embasamento.

Logo, existe todo o direito de discordar do que foi postado sobre “globo triplo” (e sobre qualquer outra coisa) e eu terei o maior prazer em publicar aqui neste espaço o seu estudo e argumentação contrários à minha tese. Poderá, caso deseje, enviar para meu e-mail: bulad@outlook.com facilmente ou postar nos comentários abaixo. Repito: ESTOU ABERTO ÀS CRÍTICAS desde que bem fundamentadas. Com elas, todos nós ganhamos em conhecimento e experiência!

Portanto, fico no aguardo da contra-argumentação, embora eu duvide muito que alguma virá.

Deixe abaixo o seu comentário!

11 outubro 2016

A Famigerada Moeda «Globo Triplo»

Síntese: Uma grande bobagem, que demonstra o pouco nível de conhecimento técnico de alguns de nossos “numismatas”, especialmente sobre o processo de fabricação de nossas moedas, aliado a pura especulação financeira.

Tal moeda, para o qual inventaram o ridículo nome de «Globo Triplo» é mencionada na obra «Catálogo das Moedas do Brasil» de Carmelino de Souza Gomes, como sendo uma “variante” na moeda 10 Centavos 2005, e contendo um «traço sob o dez» e uma cotação no mínimo bizarra: R$ 100, e sem informar para qual Estado de Conservação! Não consta em nenhum outro catálogo de moedas brasileiras.



O primeiro erro é identificar tal moeda como sendo uma “Variante”.

Não custa relembrar:

ANOMALIAS, ou MOEDAS ANÔMALAS são moedas resultantes de uma falha no processo de fabricação, ou seja, erros de produção, defeitos de fabricação NÃO INTENCIONAIS. Existem de diversos tipos diferentes, com variadas causas, e em diferentes graus, sendo que as anomalias que não afetam o design da moeda de forma significante, são distribuídas normalmente à população, enquanto que anomalias mais importantes que caracterizem sério defeito de fabricação não costuma sair do ambiente da Casa da Moeda em que são cunhadas, sendo então destruídas. No entanto nem sempre o controle de qualidade é suficientemente eficaz, e algumas acabam inadvertidamente por serem distribuídas à população para circular.

VARIANTES são moedas que, sendo do mesmo tipo, e com a mesma era (data), foram produzidas por um cunho ou par de cunhos, reverso e anverso com pequenas alterações INTENCIONAIS em seu design (pequenas correções ou melhorias no desenho). Por exemplo, 2.000 Réis 1863 que existe com algarismos da data grandes ou pequenos, 200 Réis de 1854 a 1867, que existe com “Coroa de Espinhos” e “Coroa com Pérolas”, 5 Centavos 2007, que existe com 12 e com 13 riscos atrás do busto do mártir, etc.


Portanto, não se trata de uma variante, e sim de uma anomalia – que é comum -  e denominada «Cunho Marcado». Falei sobre a mesma no artigo anterior, mas não custa repetir:


CUNHO MARCADO (Die Clash): Chamado no Brasil, de forma ignorante, por leigos, de “cunho vazado”, “data vazada”, “cunho chupado” (sic!), “cunho umbigado” (sic!), “globo triplo”, dentre outros termos igualmente estranhos e absurdos. Ocorre quando os cunhos de anverso e reverso batem um no outro, sem haver um disco de metal entre os mesmos, e ambos os cunhos ficam danificados e marcados com elementos do design um do outro, em negativo, e em seguida cunham moedas. Como resultado, em alguns casos, parte do design do anverso fica gravado no reverso da moeda, (ou vice-versa), ou então a marca das bordas do cunho.


Uma moeda com cunho marcado é apenas uma mera curiosidade, e sequer deveria estar constando em catálogos. Até porque, se formos catalogar todas as anomalias que aparecerem, não teremos um simples catálogo, e sim um banco de dados em um Data Center, e em nossas coleções, centenas de moedas de um mesmo tipo. Basta conferir o artigo anterior para constatar uma pequena amostra. Eu tenho certeza absoluta que os editores dos demais catálogos publicados no Brasil, principalmente aqueles que estudam seriamente as moedas que catalogam, jamais perderiam tempo com tal coisa. Ninguém, NO MUNDO, perde tempo com isso.

Na moeda «Globo Triplo», ou qualquer outra com anomalia idêntica, é apenas a marca da borda de um dos cunhos, que marcou o outro cunho em negativo, sendo reproduzido em positivo durante a cunhagem. Não há nada de especial nesta moeda!

E se o cunho bater sem disco mais uma vez e ficar marcado, porém deixando uma marca em posição diferente da ''globo triplo''? Vai ser catalogado também? Outro fato: Essa ''variante'' (na verdade, anomalia…) não aparece somente na 10 Centavos 2005, e sim em várias datas e denominações e em diferentes posições. É possível encontrar em diversas denominações do Real.

Seguem imagens:


Mais: O risco é SOBRE (cortando) o 10, como é ilustrado no catálogo, ou é SOB (abaixo) do 10, como descrito no mesmo catálogo?? Qual das duas é a tal «Globo Triplo» segundo o catálogo do Carmelino? A ilustrada, ou a descrita? Abaixo do 10, ou cortando o 10? E adivinha: ambas possibilidades existem! E também acima, de lado…

A marca em algumas imagens que temos não está cortando o ''10'', e sim, acima dele, ou de lado, como no caso da moeda de 50 Centavos acima. Só por causa disso não seria '«globo triplo»'? E porque não seria, se a anomalia é a MESMA, e a causa também é a MESMA (ou seja, cunho marcado)?

Logo, vemos claramente que «Globo Triplo» é uma grande bobagem. Até o nome é esquisito, pois não há três globos nas moedas. Apenas um risco adicional no meio da faixa do globo, uma anomalia que poderá estar em qualquer posição, em qualquer data e em qualquer denominação (valor facial).

O curioso é que, Variantes de verdade, como os cunhos diferentes que ocorrem em todas as moedas do Plano Real, de todas as datas e denominações, poucos se atrevem a estudar e publicar. Temos alguns estudos esparsos feitos pela Sociedade Numismática Paranaense, e pelo numismata Sérgio Mendes em seu blog. Desconheço outros. Ilustro abaixo o estudo feito por ambos para a moeda 5 Centavos 2007:

O Artigo do numismata Sérgio Mendes:https://colecaosfm.wordpress.com/2015/01/02/5-centavos-de-2007-os-dois-anversos/

O Artigo da Sociedade Numismática Paranaense:


Só pra finalizar: O numismata que desejar enviar uma moeda “globo triplo” para ser graduada pela NGC, irá perder seu precioso tempo, gastar inutilmente o seu dinheiro e passar raiva. A NGC não gradua anomalias insignificantes como cunho marcado.

Basta ler aqui: «NGC does not recognize as mint error coins those with minor die chips, breaks and rotations, etc., that fall within our interpretation of mint tolerance. The determination of what constitutes a mint error is at the discretion of NGC.»

https://www.ngccoin.com/news/article/1655/Variety-versus-Mint-Error/

PCGS também não gradua e encapsula cunho marcado e outras anomalias menores.

Podes ler aqui: http://www.pcgs.com/varietyfaq


Deixe o seu comentário abaixo!

10 outubro 2016

Anomalias e Variantes em Moedas

Este blog não pretende ser um manual completo das anomalias encontradas em moedas brasileiras. Para isto precisaríamos escrever uma verdadeira enciclopédia, pois na numária brasileira, desde a colônia até os dias atuais, nossas moedas foram cunhadas por diferentes processos, desde marteladas, passando por cunhagem em balancim movido por bois ou escravos, máquinas movidas à vapor, até as máquinas eletrônicas modernas atuais.

A medida que os métodos de cunhagem vão se modernizando e aperfeiçoando, diferentes tipos diferentes de erros vão surgindo, e por isto mesmo pretendo me ater, com explicações simplificadas, somente àqueles erros mais comuns e facilmente encontrados nas moedas do Período Republicano (1889 até os dias atuais), com uma ênfase maior a partir do período inicial do Cruzeiro, ou seja, 1942. Explicações mais aprofundadas podem ser obtidas em livros (todos publicados no estrangeiro) e em associação à Sociedades Numismáticas SÉRIAS.

Tenho visto muita confusão, inclusive entre numismatas experientes, acerca da maneira de como nomear e simplesmente identificar as moedas anômalas encontradas. Por não saberem do que se trata, acabam por inventar nomes esdrúxulos ou apelidos que não explicam o que realmente são tais peças.

Por isso, antes de mais nada, é necessário explicar e diferenciar os termos «anomalia» e «variante». Na numismática, são coisas absolutamente diferentes, e muitos numismatas costumam se referir às anomalias pelo nome de variantes, e isto é errado. A definição correta:


ANOMALIAS, ou MOEDAS ANÔMALAS são moedas resultantes de uma falha no processo de fabricação, ou seja, erros de produção, defeitos de fabricação NÃO INTENCIONAIS. Existem de diversos tipos diferentes, com variadas causas, e em diferentes graus, sendo que as anomalias que não afetam o design da moeda de forma significante, são distribuídas normalmente à população, enquanto que anomalias mais importantes que caracterizem sério defeito de fabricação não costuma sair do ambiente da Casa da Moeda em que são cunhadas, sendo então destruídas. No entanto nem sempre o controle de qualidade é suficientemente eficaz, e algumas acabam inadvertidamente por serem distribuídas à população para circular.

 

VARIANTES são moedas que, sendo do mesmo tipo, e com a mesma era (data), foram produzidas por um cunho ou par de cunhos, reverso e anverso com pequenas alterações INTENCIONAIS em seu design (pequenas correções ou melhorias no desenho). Por exemplo, 2.000 Réis 1863 que existe com algarismos da data grandes ou pequenos, 200 Réis de 1854 a 1867, que existe com “Coroa de Espinhos” e “Coroa com Pérolas”, 5 Centavos 2007, que existe com 12 e com 13 riscos atrás do busto do mártir, etc.

 

A recolha de moedas com anomalias é um campo especializado dentro do hobby da numismática e que pode ser divertido e gerar bons lucros, desde que se compreenda como ocorrem e suas definições básicas, que são fundamentais na identificação de erros pequenos ou importantes, variedades, e até mesmo de moedas propositalmente alteradas ou simplesmente danificadas pela circulação normal.

As Casas da Moeda de todo o mundo se esforçam para produzir e emitir o melhor produto possível. Existe toda uma série de processos de fabricação e inspeções de controle de qualidade que são realizados na produção de moedas, cédulas, selos, passaportes e demais itens produzidos, o qual elimina qualquer item danificado ou indevidamente produzido.

Moedas cuja produção está finalizada são liberadas para circulação. No entanto, ocorre, em todos os lugares do mundo, de alguma peça defeituosa escapar ao controle de qualidade, e serem lançadas em circulação juntamente com as moedas-padrão. Moedas que não estão nos padrões encontrados em um conjunto emitido podem ser identificadas como sendo um erro de fabricação ou uma variedade (nunca como variante!). Suas definições podem ser um pouco difíceis de compreender se você não entender como funciona o processo de cunhagem de moedas. Caso contrário, eles são muito fáceis, claros, e óbvios.

As atuais moedas brasileiras de circulação são as de PIOR qualidade e com o PIOR material jamais cunhadas em toda a história numismática brasileira. Por isto, erros e falhas sempre serão comuns e facilmente encontrada nos trocos.

Pra se ter uma idéia da “qualidade” das nossas atuais moedas: Os Cruzeiros amarelos de 1942-56 são em Bronze-Alumínio, material altamente reciclável e usado até hoje por artesãos para se fazerem alianças. Os metais utilizados posteriormente a essa emissão foram o Alumínio e o Cupro-Níquel, igualmente recicláveis e de razoável valor. Em seguida, veio o aço inox, que, apesar de valer muito menos, ainda assim é reciclável, embora seja dispendioso, anti-econômico. Já as moedas atuais da segunda família do Real, eletrorrevestidas, quando forem desmonetizadas, não servirão sequer como sucata para reciclagem. Trata-se de um material extremamente podre. Nossos amigos detectoristas que o digam: As encontram nas praias ou enterradas, já totalmente corroídas, algumas não servindo mais para uso.

Assim sendo, moedas anômalas são peças fabricadas de forma inadequada, erros, defeitos ou falhas de produção. Existem de diversos tipos assim como diversas são as suas causas, que vão desde uma chapa de aço mal cortada ou no final, moedas que passam pela máquina de cunhagem e não são batidas adequadamente pelos cunhos, moedas que não foram adequadamente cunhadas, cunhos que racham e quebram, etc.

E por isso mesmo, existem duas grandes categorias de anomalias em moedas: Erros menores e erros importantes. No geral, erros menores são aqueles que, mesmo sendo detectados, é permitida a aprovação pelo controle de qualidade da produção, enquanto que erros importantes não são aprovados pra circulação. Para exemplificar:

Erros menores (e de pouca importância): Rotações de Cunho (“Reverso inclinado”) a menos de 30 graus, Disco incompleto pequeno, cunhagem levemente deslocada, laminações, cunhos rachados, cunhos marcados, empastamentos, cunho rachado, cunho quebrado com menos de 30% do design encoberto, cunho entupido, e falhas de cunho gasto, além de moedas que não recebem o banho de eletrorrevestimento de bronze ou cobre, etc. Todas estas não são erros sérios de cunhagem. Não vale a pena ficar procurando isso, como muitos fazem, é perder tempo. É besteira pagar caro por isso, não é coisa que se valorize e em uma coleção séria deve entrar somente como mera curiosidade.

Procurem erros palpáveis, de envergadura, que não podem ser reproduzidos em casa, e que impressionam até mesmo aqueles leigos em numismática, como p.ex. Rotação de Cunho a 180º (o clássico Reverso Invertido), ou maiores que 30º (Reverso horizontal), Batidas duplas ou múltiplas bastante deslocadas, moedas com cunhagem descentrada a 50% ou mais, disco incompleto grande ou múltiplo cobrindo pelo menos 25% do design, mulas (cunhos trocados), cunhagem incusa, etc. Explicarei sobre cada uma destas anomalias de forma resumida abaixo.

Na dúvida, opte apenas em adquirir as anomalias clássicas e mundialmente reconhecidas, inclusive em catálogos, pois estas sempre tem valorização e procura no mercado.

Tenha sempre em mente:

Na numismática não há espaço para achismos, numismática é ciência e temos sempre que aprender com aqueles que são mais experientes no ramo. Em síntese, anomalias que podem ser minimamente imitadas em casa usando equipamentos rudimentares não devem ser consideradas a não ser como mera curiosidade.

Porque ocorrem anomalias? As maquinas da Casa da Moeda batem 600 a 700 moedas por minuto, dependendo do valor facial. As moedas defeituosas deveriam passar pelo controle de qualidade e serem descartadas, mas... é complicado analisar 600 a 700 moedas por minuto.

Assista ao vídeo abaixo e veja como são fabricadas nossas atuais moedas:

 

 

Passemos então a falar um pouco, de forma resumida, sobre as tais anomalias, as mais facilmente encontradas. Para ilustrar este texto, servi-me de peças de meu Gabinete Numismático, e imagens encontradas nas redes sociais e na internet.

 

CUNHO ENTUPIDO (Clogged Die): Algum pedaço de metal, ou impureza, ou graxa de lubrificação ficou no baixo-relevo do desenho do cunho, e impediu que fosse devidamente cunhado no disco, e o resultado é que uma parte, geralmente pequena, do design, fica com a cunhagem muito fraca ou praticamente inexistente.

Exemplos abaixo: Faltou uma Estrela no Cruzeiro do Sul na moeda de 1 Real, e na de 25 Centavos, faltou o “V” de CentaVos. Não é um erro importante e recebe menos pontos na Classificação da Escala Sheldon do que uma moeda normal.

 

 

CUNHO DESGASTADO (Poor Strike): O próprio nome também é auto-explicativo, e ocorre pelo desgaste natural do cunho após milhares de batidas, mas a diferença para com o cunho entupido, é que TODO o design da moeda está com desgaste uniforme. São moedas batidas com os cunhos já em seus últimos momentos de utilização (final da vida útil). Não é um erro importante e recebe menos pontos na Classificação da Escala Sheldon do que moedas normais.

Exemplos abaixo: Moeda 1 Real 2009 flor de cunho (peça de meu Gabinete Numismático particular). Observe a borda do núcleo de aço inox. Na moeda de 10 Centavos 2002 abaixo, Cunho desgastado + cunho rachado na mesma moeda.

 

OXIDAÇÃO: As moedas da segunda família do Plano Real são fabricadas em Aço Carbono (material de baixa qualidade, a pior da numária brasileira) com eletrorrevestimento de Cobre (1 e 5 Centavos) ou Bronze-Alumínio Fosfórico (10 e 25 Centavos). O eletrorrevestimento de cobre foi danificado de alguma maneira, expondo o aço de baixo carbono que está por baixo. Isto é oxidação/corrosão do aço de baixo carbono. Trata-se de vandalismo ou reação aos elementos da natureza, ou por algum ácido. Pode surgir pelo mero toque na moeda com mãos suadas ou úmidas, deixando impressões digitais que irão lentamente corroer a moeda. É uma peça irremediavelmente danificada, não recebe classificação por Estado de Conservação, não possui nenhum valor numismático e deve ser descartada. Caso contenha ainda Poder Liberatório, deve ser posta para circular.

Exemplos abaixo:

 

CUNHO RACHADO: O cunho trincou ou rachou, abrindo uma pequena ranhura. De tanto bater moeda, o cunho sofre a chamada ''fadiga do metal'', e o metal do cunho torna-se frágil e quebradiço. Começa com rachaduras pequenas que vão aumentando até o cunho realmente quebrar e soltar um pedaço. Na hora da cunhagem, se o cunho estiver rachado, vai haver um pequeno espaço por onde o metal do disco vai vazar na hora de ser pressionado.

O que é um ''cunho''? E como ele racha ou até mesmo quebra? CUNHO é a peça que possui o desenho da moeda em relevo negativo (inverso). O mesmo bate no disco em alta pressão de dezenas de toneladas e cunha a moeda, como se fosse um carimbo batendo no papel e deixando sua impressão. O cunho racha ou quebra por conta da fadiga do metal. Peça alguma aguenta receber pancada milhares de vezes seguidamente e uma hora ou outra vai quebrar. O resultado? Ei-lo:

Geralmente apresenta-se em diversas formas nas moedas, parecendo um risco em alto relevo. É menos importante que o cunho quebrado, e portanto deve ser guardado apenas como mera curiosidade.

CUNHO QUEBRADO (Die Break, ou Break “Cud”): O cunho quebrou e soltou um pedaço. Onde o cunho quebrou, o disco de metal não sofreu pressão de cunhagem. Em alguns casos, (como no exemplo abaixo, 50 Centavos 2009) não há contra-pressão no outro lado da moeda, e sofre uma pequena depressão (nem sempre ocorre). É um erro de cunhagem interessante, mais importante que o cunho rachado, e merece ser guardado na coleção, desde que cobrindo uma parte grande do design. As empresas certificadoras norte-americanas encapsulam e graduam tais moedas e as vezes indicam sua anomalia específica.

Cabe esclarecer: ''Sobra de metal'': Um termo utilizado por leigos e ignorantes no assunto, geralmente aqueles que caíram de para-quedas na numismática recentemente, não são colecionadores e sim apenas meros vendedores que surgiram com a “febre” de moedas das modalidades olímpicas nas redes sociais, e que, infelizmente, tornaram popular o errôneo termo “sobra de metal” por pura ignorância e desconhecimento da causa. Estes tentam descrever o que vêem, e não suas causas. O nome correto, reafirmamos, é CUNHO QUEBRADO. Esta nomenclatura é auto-explicativa e utilizada internacionalmente. Para ser “sobra de metal”, a moeda teria que ter um pedaço a mais, uma ''orelha'' de metal além do disco. Com isso a moeda teria que estar mais pesada que as normais (afinal, dizem que tem metal sobrando…). E isto simplesmente não ocorre. Portanto: Esqueça o termo ''sobra de metal''. Não sei quem foi que inventou isso, mas é algo que simplesmente não existe. É uma nomenclatura burra e ignorante.

 

Acima, uma peça fantástica, encapsulada pela NGC: Moeda de 1 Centavo 1975 D dos Estados Unidos com cunho quebrado, e o pedaço do cunho que soltou, juntos!

 

CUNHAGEM DESCENTRADA (Off Center Strike): Chamado comumente no Brasil pelo apelido “Boné” por comerciantes e leigos, pode ocorrer em um ou em ambos lados da moeda. O cunho bateu com o disco não posicionado corretamente na Virola (peça que segura o disco pelas bordas no ato da cunhagem). As cunhagens descentradas podem variar em diversos graus.

Considera-se uma peça boa para coleção aquelas onde no mínimo 5% do design da moeda não fora cunhado no disco. Abaixo disso, é considerado como uma peça regular. É também preferível aquelas peças que ainda apresentem a data visível. É um erro muito importante por ser praticamente impossível reproduzí-lo fora do ambiente da Casa da Moeda, e recebe encapsulamento e graduação pelas empresas graduadoras de moedas. É um dos melhores e mais valorizados erros de cunhagem que o numismata deve buscar para sua coleção.

 

LAMINAÇÃO (Laminations): Resultado de uma moeda cunhada em um disco defeituoso. O disco também pode se tornar defeituoso quando sujeira ou impurezas forçam o disco a rachar ou descascar após a cunhagem. Variam muito em tamanho e gravidade. É comum em moedas de Bronze-Alumínio dos Cruzeiros de 1942-1956.

 

DISCO INCOMPLETO (Incomplete Planchet, ou Clipped Coin): Também chamado no Brasil de “chapa cortada” ou “final de chapa”. Ocorre na fabricação dos discos, e não durante a cunhagem. Durante o processo de fabricação dos discos que serão cunhados como moedas, são inseridas chapas de metal em uma máquina que as golpeia, separando os discos.

A chapa final, toda furada, é depois revendida para ser utilizada em diversos fins, como cercas, ou derretida para ser transformada em novas chapas. Os discos irão pra máquina de cunhagem de moedas.

As vezes, problemas na alimentação da chapa de metal na máquina de cortar discos ocasiona que algumas peças tenham erros no corte e o resultado são discos faltando metal. Repare que são possíveis três tipos de erros: Pode ocorrer reto (nas bordas da chapa de metal), circular (no meio da chapa) e irregular (no final da chapa).

É um erro que pode ser reproduzido em casa com ferramentas de oficina. Por isso mesmo, deve-se examinar muito bem a moeda que possui tal erro. As originais possuem o chamado «Efeito Blakesley».

Nomeado pelo numismata americano que o identificou, o Efeito Blakesley é o mais poderoso identificador de um verdadeiro erro de Disco Incompleto. Durante a cunhagem, o fluxo de metal vai tomar o caminho de menor resistência, e preencher os elementos de design do cunho da moeda. O efeito Blakesley é caracterizado por estrias nas moedas que tem este erro devido ao alívio de pressão que ocorre durante a cunhagem por faltar um pedaço de metal no disco. O fluxo de metal se torna radial, em direção às bordas. Além disso, caracteres do design próximo ao corte da chapa ficam com a cunhagem mais fraca. Procure observar a moeda com lupa, ou imagem de alta resolução. Se não contiver o Efeito Blakesley, fuja.

 

CUNHO MARCADO (Die Clash): Chamado no Brasil, de forma ignorante, por leigos, de “cunho vazado”, “data vazada”, “cunho chupado” (sic!), “cunho umbigado” (sic!), “globo triplo”, dentre outros termos igualmente estranhos e absurdos. Ocorre quando os cunhos de anverso e reverso batem um no outro, sem haver um disco de metal entre os mesmos, e ambos os cunhos ficam danificados e marcados com elementos do design um do outro, em negativo, e em seguida cunham moedas. Como resultado, em alguns casos, parte do design do anverso fica gravado no reverso da moeda, (ou vice-versa), como na moeda 5 Centavos abaixo, ou então a marca das bordas do cunho (como na moeda 50 Centavos abaixo).

Sobre a “variante” (no caso, anomalia/defeito de cunho marcado) que chamam especificamente de “Globo Triplo” em um certo pasquim que diz ser um “catálogo nacional de moedas”, e também especificamente na moeda de 10 Centavos 2005, irei redigir um artigo exclusivo em breve.

 

DISCO EM BRANCO (Un-Struck Blank): Também chamado de “disco liso”, nada mais é do que um disco de metal para cunhagem de moedas que, por algum motivo, não entrou na Virola e não foi cunhado. Pode ter passado direto pela máquina de cunhagem, ou sequer entrou na máquina. Pode inclusive ser encontrado em sachês ou rolos de moedas. Não possui alto valor, porém as empresas graduadoras as encapsulam. Estas peças devem ser acondicionadas na coleção acompanhadas de uma pequena ficha indicando para qual moeda seria cunhada.

 

FALHA NO ELETRORREVESTIMENTO (Unplated Planchet): Erro de fabricação muito comum nas moedas da Segunda Família do Plano Real e ocorre após o disco de Aço Carbono ter sido cortado da chapa, que em seguida recebe um eletrorrevestimento (galvanização) de Cobre ou Bronze-Alumínio Fosfórico, sempre antes da cunhagem.

Alguns discos acabam por ficar sem o eletrorrevestimento de forma parcial ou até mesmo total. Não é um erro sério pois pode ser reproduzido fora do ambiente da Casa da Moeda, bastando pra isso dar um banho de Níquel na moeda pra que a mesma fique prateada, ou remover o eletrorrevestimento com ácido ou eletrólise, e por isto mesmo, não alcançam grande valorização. Boas peças colecionáveis são sempre Flor de Cunho, e devem sempre conter o brilho original de cunhagem, que é dificilmente reproduzido por outra forma, e são encontradas e retiradas direto dos sachês e postas na coleção. Não deve nunca ser tocado com a mão nua, sob pena de oxidação e perda do brilho.

O Aço Carbono nu é um material que se oxida rapidamente se exposto aos elementos e à atmosfera, e a moeda deve ser armazenada em cápsulas estanques (que não entrem ar) ou holders autoadesivos. Recomenda-se enfaticamente que seja aplicada uma camada de Cera Renaissance Wax na peça a fim de criar uma fina película que evite a oxidação. Nunca se deve colocar peças assim em holders de agrafar!

Estas são as anomalias mais comuns encontráveis. Com o tempo irei falar sobre cada uma delas com mais profundidade, e sobre outras que não mencionei.

Deixe o seu comentário abaixo!

 

Atualização em 24 Junho ‘2020:

Este artigo foi publicado também no site «Numismática Castro» em 3 Dezembro ‘2017.
Link: https://numismaticos.com.br/estudo-para-moedas-anomalas-e-variantes-em-moedas/